segunda-feira, 30 de maio de 2016

CARGILL TENTA DIMINUIR DEPENDÊNCIA DA COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES.



A maior empresa de agronegócios do mundo vem dando passos para se "descommoditizar". Esse foi o termo usado por um alto executivo da americana Cargill ao descrever como a mudança nas preferências alimentares dos consumidores vem modificando a estratégia da companhia.

O termo choca, porque há um século e meio a Cargill é conhecida como a mais pura essência da comercialização de commodities, negociando rios e mais rios de grãos, oleaginosas, açúcar e outros gêneros alimentícios.

A Cargill, no entanto, passou a ajustar sua cadeia de suprimentos de produtos a granel diante do crescente número de consumidores que querem alimentos produzidos de acordo com certos padrões sociais e ambientais ou alimentos naturais que cumpram algumas condições, como a ausência de transgênicos.

A empresa criou um xarope de milho livre de transgênicos para atender um cliente no ramo de doces, segundo o balanço anual da firma. Na semana passada, o diretor de finanças da Cargill, Marcel Smits, explicou em Nova York que a empresa dedicou uma fábrica inteira para fazer o produto, cujo volume já representa 10% do total de sua produção de xarope de milho.

"Se as pessoas pedem uma versão transgênica e outra não transgênica, inicialmente pensamos e dizemos: 'Ah, isso vai ser complicado, porque temos que manter nossos grãos separados, em silos separados'", disse Smits, na conferência "Farm to Market", da BMO. "Se pensamos um pouco mais, dizemos: 'Ah, isso na verdade é interessante porque vai descommoditizar nosso negócio'".

A Cargill é uma das maiores produtoras de carne bovina na América do Norte. Produz quase 3,6 milhões de toneladas de carne bovina embalada e de derivados por ano, de acordo com o site da empresa. Atualmente, é capaz de manter esse tipo de separação "na carne de 20 animais durante todo o processo até a embalagem [final]".

Por definição, essa fragmentação encolhe as economias de escala possíveis quando se lida com grandes volumes de commodities. Construir silos separados de grãos aumenta os custos.

Smits disse, contudo, que negócios especializados, como o xarope de milho sem transgênicos, também trazem margens de lucro maiores. "A fragmentação de nosso setor está descommoditizando as cadeias de abastecimento agrícolas. Isso não vai mudar. A propósito, isso é realmente uma boa notícia para a Cargill", disse.

Naturalmente, a Cargill há muito tem operações fora da esfera das commodities. A divisão de "química verde" da empresa fabrica polímeros e polióis à base de soja, usados, por exemplo, na espuma de travesseiros, e formula produtos especiais derivados de ovos, usados em redes de lanchonetes. Também continua desenvolvendo seu negócio principal, de comercialização de commodities, tendo investido, por exemplo, em um porto para grãos na Ucrânia, neste ano.

Em tempos de excesso de oferta e queda de lucros na comercialização de grãos, não é de surpreender que a Cargill e outras grandes do setor falem em linhas de produtos fora do mundo das commodities.

A ADM, por exemplo, comprou em 2014 a Wild Flavors, uma empresa de bebidas saborizadas e alimentos especiais, por € 2,3 bilhões. A Bunge, que também fabrica alimentos e comercializa grãos e oleaginosas, quer que as operações de valor agregado representem 35% de seu lucro antes de juros, impostos e depreciação, em comparação aos 15% de 2015. (Tradução de Sabino Ahumada)

Fonte: Valor Economico/Gregory Meyer | Financial Times, de Nova York

Nenhum comentário:

Postar um comentário