quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Hidrovias do Brasil planeja terminal de GNL no Pará.







A Hidrovias do Brasil, empresa de logística controlada pela gestora Pátria Investimentos, se prepara para abrir uma nova frente de operação logística no Norte do país, voltada à distribuição de gás natural na região.

A ideia é construir um terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) em Barcarena, no Pará, onde o grupo já possui um terminal de uso privado (TUP) voltado a outras atividades, como grãos e fertilizantes. A nova estrutura deverá incluir espaços para atracação de navios, armazenagem e regaseificação.

O grupo já tem as licenças necessárias para tocar o projeto, afirmou o presidente da companhia, Bruno Serapião. “Neste momento, estamos desenvolvendo parceiros que vão utilizar esse gás. No curto ou médio prazo, vamos anunciar uma parceria estratégica de longa duração”, disse o executivo.




A iniciativa da empresa tem como pano de fundo uma transformação na matriz elétrica no Norte do país. Hoje, grande parte dessa região não está conectada às linhas de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN) e, por isso, depende da geração local de térmicas movidas a óleo diesel. O objetivo do governo federal é substituir essas usinas por outras, movidas a gás natural - combustível mais barato e menos poluente que o diesel.

“Há muitas usinas que terão que mudar para o gás natural, e queremos participar dessa logística”, afirma Serapião.

Neste ano, estão programados dois leilões para contratar usinas a gás e substituir térmicas a diesel, cujos contratos de venda de energia terminam em 2023.

“A estrutura em Barcarena vai ser modificada em breve para atender [esse mercado] e, depois, dependendo de onde o cliente quiser ir, vamos olhar outros terminais. Aí pode ser aquisição, terminal do cliente, terminal novo, vai depender muito”, diz ele.

A Hidrovias do Brasil já tem atuação forte na região, para o transporte de grãos e fertilizantes - e que segue em expansão. Desde 2017, também movimenta bauxita por meio de navegação costeira no Pará.

Além da operação Norte, o grupo tem uma estrutura logística consolidada ao Sul, em um corredor que passa por Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Nessa rota, são transportados grãos, fertilizantes, minério de ferro, celulose, entre outros.

Ao todo, a companhia teve receita de R$ 272 milhões no terceiro trimestre de 2019. No acumulado do ano passado até setembro, o faturamento da empresa foi de R$ 716,75 milhões.

O grupo também acaba de firmar um novo contrato para operar mais um terminal, no porto de Santos (SP), que irá movimentar fertilizantes e sal.

Esse novo arrendamento não representará uma nova unidade de negócio para a empresa - como é o Norte e o corredor Sul -, mas vai agregar negócios às operações já existentes. O primeiro contrato de longo prazo já foi firmado, por 20 anos, com a Salinor. A ideia é transportar sal desde o Rio Grande do Norte, onde o cliente atua, até o mercado consumidor paulista.

Há ainda outras negociações “avançadas” em curso com potenciais clientes, diz o executivo.

Participar de novos leilões de terminais portuários segue no radar da companhia, que tem acompanhado os projetos de arrendamento do governo federal. “É uma alternativa para portos onde terminais privados não são viáveis. Mas [esse movimento] estará sempre alinhado com as necessidades dos clientes”, afirma.

Em paralelo aos planos de expansão, a Hidrovias do Brasil trabalha com um projeto para desenvolver empurradores (uma espécie de barco que “empurra” diversas barcaças, formando um comboio) elétricos.

“Nossa intenção é colocar o primeiro empurrador elétrico do mundo em águas amazônicas. Isso já é possível com a tecnologia atual”, diz a diretora de engenharia do grupo, Mariana Yoshioka.

O objetivo é que o projeto, desenvolvido com outros parceiros, saia do papel até 2022 e tenha custo igual ao de um empurrador regular - para que seja viável adotar o modelo na frota da empresa. A perspectiva, com isso, é reduzir custos operacionais com combustíveis em 30%.

Fonte: Valor

Questões acerca do prazo prescricional para as ações de cobrança da 'demurrage'.







O presente artigo se propõe a analisar alguns aspectos da controvérsia sobre o prazo prescricional para a cobrança de despesas de sobreestadia de contêineres ('demurrage'). Para as pretensões fundadas em contrato de transporte marítimo, seria esse prazo prescricional de 01 (um) ano, 03 (três) anos, 05 (cinco) anos ou 10 (dez) anos?

Habitualmente, nos contratos de transporte que envolvem a utilização de contêineres, o transportador (dono do contêiner) concede ao embarcador/afretador (usuário do contêiner) um período sem ônus ("free time") para que este retire as mercadorias da unidade e devolva o referido contêiner vazio. Caso o contêiner não seja devolvido no prazo estipulado, então há incidência da demurrage e o afretador terá de arcar com esse custo adicional.

Nascendo a possibilidade de o transportador cobrar a demurrage, cabe questionar qual o período de tempo em que ele poderá exercer esse direito. Inicialmente, prevalecia o entendimento (REsp nº 176.903/PR) que o prazo prescricional seria de um ano, em atenção ao disposto no artigo 449, inciso III do Código Comercial. Nesse cenário, para fins de definição do prazo prescricional, na prática não havia importância a distinção entre o transporte unimodal (marítimo porto a porto) e o que se denominou ser transporte multimodal (porta a porta), já que para ambos os casos o prazo previsto necessariamente seria de 01 (um) ano (Art. 22. Da lei 9.611/1998).


Ocorre que em janeiro de 2003 entrou em vigor o atual Código Civil, o qual expressamente revogou o artigo 449 do Código Comercial e estabeleceu novos prazos prescricionais. Surgiu, assim, a discussão se o prazo prescricional de apenas um ano, estabelecido na Lei nº 9.611/1998 para o transporte multimodal, também seria aplicável para o transporte unimodal (REsp 1.355.095/SP).

A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça já tinha o entendimento que o prazo prescricional para responsabilização civil decorrente de relação contratual não poderia ser de três anos. Essa concepção acabou por ser uniformizada pela Corte Especial do Tribunal no julgamento de embargos de divergência no RESP nº 1.281.594/SP, em maio de 2019.

Após muita oscilação de decisões dos tribunais, em 2015 a Segunda Seção do STJ afastou a aplicação da Lei nº 9.611/1998 para os contratos de transporte unimodal e fixou a conclusão de que, quando a "demurrage" for oriunda de disposição contratual que estabeleça os dados e os critérios necessários ao cálculo do ressarcimento, o prazo prescricional será de cinco anos, como estipulado pelo artigo 206, parágrafo 5º, inciso I, do Código Civil (RESP 1.340.041/SP). Já nas hipóteses em que não houver prévia estipulação contratual, a Seção entendeu que deverá ser aplicada a regra geral do artigo 205 do Código Civil, ocorrendo a prescrição em 10 (dez) anos.

Todavia, esse julgamento de 2015 não foi processado sob a sistemática dos recursos repetitivos. Assim, apesar de ter uniformizado o entendimento das turmas de direito privado sobre o tema, a tese não tem os efeitos estabelecidos no artigo 1.039 do Código de Processo Civil.

Por essa razão, em novembro de 2019 a Segunda Seção do STJ submeteu ao rito dos recursos repetitivos os RESP nº 1.819.826/SP e RESP nº 1.823.911/PE, de relatoria do ministro Villas Bôas Cueva, cadastrados como Tema nº 1035, com o objetivo de definir o prazo prescricional da pretensão de cobrança de despesas de sobre-estadia de contêineres (demurrage) fundadas em contrato de transporte marítimo (unimodal). Em função disso, está suspensa em todo território nacional a tramitação de processos pendentes que tratem da questão afetada.

Após esse julgamento do STJ, deveremos ter finalmente uma pacificação do tema, tudo levando a crer que irá prevalecer a decisão de que os prazos prescricionais aplicáveis à "demurrage" em transporte unimodal, apesar de extensos, são os de cinco anos para quando a sobreestadia de contêineres for oriunda de disposição contratual que estabeleça os dados e os critérios necessários ao cálculo do ressarcimento e dez anos nas hipóteses em que não houver prévia estipulação contratual. Importante notar, por fim, que o prazo prescricional para a cobrança de sobre-estadia do transporte multimodal não está sob discussão no STJ, prevalecendo a diretriz de que este prazo é de um ano.

Uma vez proferida a decisão sob a sistemática dos recursos repetitivos, ficará claro que é preciso separar, em cada caso, as análises dos contratos de transporte unimodal do multimodal, para a verificação dos prazos prescricionais de cobrança da "demurrage". As consequências práticas que essa distinção acarreta, todavia, merecerão o acompanhamento das decisões subsequentes dos tribunais.

FONTE:
Manoel Duarte Pinto é sócio de Trigueiro Fontes Advogado