quarta-feira, 16 de setembro de 2015

BRASIL ESTÁ PRESO NA SUA SITUAÇÃO POLÍTICA, DIZ PRESIDENTE DA VALE.

BELO HORIZONTE - O presidente da Vale, Murilo Ferreira, reconheceu que o Brasil está “preso da sua situação imediata”. A frase foi uma resposta a uma pergunta do mediador Willian Waack, em painel do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), sobre se o país está refém da crise política de curto prazo.

Ferreira afirmou, porém, que outros países como Chile, África do Sul e Indonésia também enfrentam crises políticas semelhantes.

O executivo disse que a classe política brasileira precisa encarar a situação não como um Fla-Flu em que um ganha e o outro perde. “Há tendência de achar que existe um poder imperial do presidente da República e isso não existe mais”, frisou.

China

O presidente da Vale disse que a China passa por um processo de reformas que devia ser exemplar para o Brasil. O executivo afirmou que o presidente chinês, Xi Jinping, é o representante chinês mais preparado e forte politicamente dos últimos tempos.

Murilo Ferreira citou como um exemplo das reformas chinesas a redução dos créditos paralelos, o chamado "shadow banking", no sistema financeiro da China. Disse que esse tipo de crédito, que representava cerca de 20% do crédito do sistema financeiro chinês caiu para cerca de 4%.

“A China colocou US$ 4 trilhões para refinanciar as dívidas ocultas de Estados e municípios”, afirmou Ferreira, lembrando que o Brasil conhece bem esses débitos.

Ferreira voltou a dizer, como já havia afirmado em recente entrevista ao Valor, que a China vai continuar crescendo, mas não quis precisar em que patamar isso se dará. Ele reiterou ainda que o superciclo das commodities minerais está encerrado.

Exportação

Durante o painel, Murilo Ferreira fez um chamado para que as empresas se voltem com força para a exportação. "Com esse câmbio que está aí é hora de aproveitar as oportunidades e nós voltarmos todas as mentes para a exportação", disse. O executivo afirmou que, para o nível de atividade da economia doméstica voltar, pelo menos em parte, será preciso correr atrás da exportação.

"A palavra é ralar, correr atrás da exportação, suar a camisa." Ele deu a entender que a recuperação da economia doméstica será demorada. "Achar que o mercado interno vai recuperar rapidamente é perda de tempo, considerando que o desemprego e a redução de renda são processos inexoráveis."

Incerteza regulatória

Durante o evento, o executivo destacou ainda que o Brasil ainda convive com um alto grau de incerteza regulatória e lembrou que o novo marco regulatório do setor de mineração tramita há anos no Congresso Nacional sem ainda ter sido aprovado. 

O executivo disse que, com a forte queda dos preços das commodities minerais, a Austrália e a China, dois competidores da Vale, fizeram ajustes. “E nós ainda estamos no blá-blá-blá”, disse Ferreira.

O presidente da Vale destacou que os problemas do Brasil não podem ser resolvidos somente com aumento de alíquotas. “Precisamos ter a agilidade que o mundo está requerendo”, frisou Ferreira, que participa juntamente com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), do talk-show realizado durante o 16° Congresso Brasileiro de Mineração, em Belo Horizonte.

O painel discute, entre outros temas, o ambiente de negócios na indústria de commodities. Waack provocou Ferreira ao mencionar sua situação na Petrobras. Ferreira pediu ontem licença da presidência do conselho de administração da petroleira até 30 de novembro - ao que o presidente da Vale respondeu rápido: “Era o meu irmão gêmeo”.

Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes.

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