segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Vale prioriza resultado em vez de volume em seu principal projeto.



A mineradora brasileira Vale pretende desacelerar e limitar o desenvolvimento de seu principal projeto de produção de minério de ferro, em mais um sinal de que o setor vem priorizando o lucro em vez de ganhar volume e participação de mercado.

O chefe das operações de minério de ferro da Vale, Peter Poppinga, disse na semana passada que o mercado não compreendeu os planos da empresa para expandir o projeto S11D, seu maior novo empreendimento, no Estado do Pará.

"Uma das coisas que o mercado não vem entendendo bem é como a Vale pretende expandir o S11D", afirmou. "Decidimos seguir uma abordagem gradual, na qual não vamos desenvolver o S11D em dois anos, mas em quatro anos", disse.

O S11D era visto como um projeto que produziria 90 milhões de toneladas por ano da matéria-prima usada na produção de aço, mas a capacidade de infraestrutura da Vale no Norte do Brasil indica que, na realidade, vai colocar 75 milhões de toneladas no mercado, que já sofre com excesso de produção.

"Não estamos [em] um jogo puramente de volume. Achamos que a abordagem apropriada [...] é maximizar nossas margens", disse Poppinga, em entrevista durante passagem por Londres.

Durante o chamado "superciclo" das commodities, as mineradoras investiram bilhões de dólares em novos projetos de minério de ferro, uma vez que a rápida urbanização da China levava o país a absorver volumes cada vez maiores da matéria-prima.

Grande parte dessa nova produção, no entanto, apenas chegou ao mercado quando o crescimento da China começava a diminuir. Os preços sentiram o golpe e agora giram em torno a US$ 55 por tonelada, cerca de 70% a menos do que no pico, em 2011.

Embora a maioria dos grandes fornecedores, como a BHP Billiton e a Rio Tinto, ainda tenham planos para elevar a produção, as empresas vêm priorizando o retorno e o lucro em vez do volume produzido.

Uma vez que seus planos de expansão estejam concluídos, a Vale terá capacidade para produzir 450 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. "Mas isso não significa que vamos usá-la", disse Poppinga, que prevê uma faixa de preços entre US$ 50 e US$ 60 por tonelada para a matéria-prima no próximo ano.

"Vamos olhar o mercado com maturidade e vamos sempre voltar o foco para a maximização de nossas margens", disse.

A Vale, com sede no Rio de Janeiro, busca reduzir seu endividamento líquido em pelo menos US$ 10 bilhões até o fim de 2017, desfazendo-se de operações secundárias e por meio de outras iniciativas.

Além da queda nos preços das commodities, a empresa tem de lidar com as consequências de um de seus piores acidentes em minas. A Vale e a BHP Billiton são sócias no projeto de minério de ferro da Samarco, em Minas Gerais, no Brasil, no qual o rompimento de uma barragem em novembro passado resultou na morte de 19 pessoas.

As empresas esperavam inicialmente poder retomar a produção da Samarco neste ano, mas essas esperanças foram derrubadas pela dificuldade em conseguir a permissão para reiniciar os trabalhos. "Prevemos [a retomada], de forma otimista, em meados de 2017; de forma realista, prevemos em algum ponto na segunda metade de 2017", disse Poppinga.

As empresas ainda se deparam com possíveis ações judiciais no Brasil relacionadas ao rompimento da barragem, que, segundo um relatório técnico divulgado em agosto, deveu-se a problemas de drenagem e de projeto.

Poppinga disse que a Vale ainda tem interesse no empreendimento com a mineradora de minério de ferro Fortescue Metals Group (FMG), da Austrália, para mesclar e vender parte da produção das duas.

O projeto para misturar o minério da Vale com o da FMG poderia produzir uma combinação mais adequada para alguns consumidores e permitir que as duas cobrassem um valor adicional pelo produto, compartilhando os ganhos. "[Já] fizemos todos os testes", disse Poppinga. "[Mas] está levando mais tempo do que o esperado no lado comercial", disse Poppinga.

Fonte: Valor

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