quinta-feira, 11 de junho de 2015

VALE ENTREGA QUATRO NAVIOS VALEMAX PARA CHINESA COSCO.

A China Ocean Shipping Company (Cosco), um dos maiores operadores de granéis sólidos do mundo, já está de posse de quatro navios mineraleiros de grande porte, os Valemax, comprados da Vale. A venda das embarcações foi concluída na visita ao Brasil, em maio, do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e as embarcações foram entregues à Cosco na semana passada. A transação totalizou US$ 445 milhões (US$ 111 milhões por unidade) e, a partir da entrega, a Vale colocou o dinheiro em caixa.
O mercado considera que a venda desses navios vai ajudar a companhia a fechar uma lacuna em seu fluxo de caixa livre que, segundo estimativas, pode variar entre US$ 4 bilhões e US$ 7 bilhões em 2015. A projeção de um fluxo de caixa negativo feita pelos bancos resulta do fato de que houve uma queda no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da Vale, provocada pela queda nos preços do minério de ferro, e, ao mesmo tempo, a companhia continua comprometida com um ambicioso programa de investimentos e terá de pagar dividendos robustos aos acionistas neste ano (US$ 2 bilhões).

"A venda dos navios não é suficiente para fechar o 'gap' [no fluxo de caixa livre], mas ajuda. Essa é uma conta que depende também, além da venda de outros ativos, do comportamento do preço do minério de ferro", disse o analista de um banco. A Vale trabalha para zerar o déficit no fluxo de caixa livre neste ano com a venda de vários ativos, entre os quais os navios.

Existe possibilidade, segundo fontes no mercado, de que a Vale venha a se desfazer de toda a sua frota própria de Valemax, o que pode render algo como US$ 2,1 bilhões, já incluindo os US$ 445 milhões obtidos com a venda das quatro unidades para a Cosco.

A Vale terminou 2014 com uma frota de 34 navios Valemax, dos quais 19 eram próprios e 15 afretados. Com a operação envolvendo a Cosco, a frota própria de Valemax caiu para 15 navios. E o número vai ser reduzido ainda mais.

A Vale disse que o valor da transação com a Cosco pode ser usado como um indicador para o restante da frota, mas ressalvou: "Muito embora existam algumas diferenças de navio para navio".

A empresa acertou dois acordos com armadores chineses mês passado. Um com a Cosco, já concluído. E o outro com a China Merchants Energy Shipping (CMES), subsidiária da China Merchants Group, para a venda de quatro grandes navios, conhecidos no jargão da indústria marítima como "Very Large Ore Carriers" (VLOCs).

Quando a operação com a CMES for concluída, a frota própria da Vale será de onze navios. Em nota, a mineradora afirmou: "A Vale está efetivamente reduzindo a frota própria de Valemaxes, porém não estamos garantindo a utilização de determinado navio e sim firmando contratos de transporte com garantia de volume".

Na visita de Li Keqiang, Vale e Cosco acertaram contrato para transporte de 6,4 milhões de toneladas de minério de ferro por ano por um período de 25 anos. "O objetivo da Vale é sempre garantir o volume de transporte de forma confiável e a um frete competitivo. Esses acordos com Cosco e China Merchant estão alinhados com esses objetivos."

Além disso, foram assinados dois memorandos de entendimento com o Export-Import Bank of China (Eximbank da China). Um envolveu o Eximbank, a Vale e a Cosco e o outro o Eximbank, a Vale e a CMES. Pelos acordos, o Eximbank considera emprestar US$ 1,2 bilhão a cada um dos dois armadores chineses para facilitar a prestação de serviços marítimos para a Vale.

Segundo a mineradora brasileira, a estratégia sempre foi garantir capacidade de transporte e não ter a propriedade da frota de navios Valemax. "Esse foi o racional da transação com a Cosco que poderá ser repetida com outros parceiros e com alinhamento estratégico", disse a Vale, em resposta a uma consulta do Valor.

Fontes próximas da empresa afirmaram que os dois acordos envolvendo a venda de navios foram importantes, pois representam oportunidade de redução de custo de capital para a Vale. "Tanto faz ter a propriedade do navio e usar esse navio na rota Brasil-China ou que essa embarcação esteja nas mãos de uma instituição, seja armador ou banco, e que ela [a instituição] afrete o navio para a Vale mediante o pagamento de uma tarifa", disse a fonte.

De acordo com a fonte, como o custo financeiro na China é competitivo, tornou-se vantajoso para a Vale não ter a propriedade do navio e fazer afretamentos em contratos de longo prazo. Quando a mineradora compra um navio, precisa considerar o custo da aquisição e o custo operacional dessa embarcação. A empresa calcula quanto custa ter esse navio em sua base de ativos levando em conta a taxa de juros média paga pela companhia.

Ao fechar uma operação de afretamento, a mineradora faz a mesma conta e, se a instituição (banco ou armador) oferecer um custo de capital menor significa que é um bom negócio para a Vale contratar a operação do navio.

No acordo com a Cosco, está previsto ainda que o armador chinês construa outros dez navios para a Vale. Mas o cronograma de construção dessas embarcações, possivelmente em estaleiros chineses, ainda não foi estabelecido, segundo a mineradora.

O acordo entre Vale e Cosco marca ainda uma mudança no panorama que existia há três anos entre as duas empresas. Em 2012, a Cosco chegou a acusar a Vale de boicotar o uso de seus navios como uma espécie de represália pelo fato de que os Valemax, à época, não terem autorização para atracar nos portos chineses.

"Achamos que o navio que carrega 400 mil toneladas de minério de ferro projetado e construído pela Vale não é seguro", disse na ocasião o presidente da Cosco às agências de notícias.

De acordo com a Vale, desde 2012, quando o primeiro Valemax entrou em operação, foram realizadas mais de 500 operações de carga e descarga com navios dessa classe em todo o mundo. "O navio tem se provado seguro e confiável, trazendo benefícios adicionais de redução de custos, ganhos de escala, aumento de eficiência dos portos e redução de emissão de CO2 ", disse a empresa.

A companhia reconheceu ainda que autoridades e armadores de todo o mundo foram ganhando mais segurança e interesse em operar com o navio. E concluiu: "Adicionalmente, houve uma convergência de direção estratégica entre Vale e Cosco, abrindo caminho para o acordo comercial [concluído em maio]".

Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | Do Rio

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