segunda-feira, 28 de julho de 2014

Estudo da CNI mostra país descendo a ladeira

Desde sua criação, em 1938, passando pelas ditadura Vargas e militar, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) procurou se manter isenta, notadamente em seus estudos. Seu atual presidente, Róbson Andrade, é mais ligado ao governo do que à oposição e, recentemente, até previu que a economia iria se recuperar neste segundo semestre. Mas os dados da análise isenta da CNI para o ano, que acabam de sair do forno, são preocupantes e mostram um país que desce a ladeira – espera-se que os freios funcionem.
O PIB industrial vai cair 0,5% este ano, mas lá se vê que a indústria meramente extrativa está em boa alta, e, portanto, a queda da indústria de transformação – a que mais impacta – é bem maior, de 2,4%. Outro setor relevante, a indústria de bens de capital, deve se retrair 5,8%. O investimento vai diminuir 2%. O desemprego é de apenas 5,8%. No entanto, essa estatística é bem estranha. Em países europeus com desemprego maior, não se vê pedintes nas ruas. Por aqui, o desemprego é dito ser baixo, mas as cidades estão cheias de camelôs; há invasões de terrenos por todo lado, proliferam vendedores de biscoito nas ruas e multidões distribuem panfletos de todos os tipos.
O saldo comercial, que foi previsto em US$ 635 milhões pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), é estimado em US$ 1,5 bilhão pela CNI. No entanto, foi de US$ 2,65 bilhões no ano passado e chegou ao recorde de US$ 46,4 bilhões em 2006. O déficit em conta corrente deve chegar a US$ 86 bilhões, o pior nível histórico. Esse item computa toda a relação com o exterior, de movimento de turistas a fretes, juros, royalites e saldo comercial.
Os dados negativos surgem em cascata. Em 2006, o setor de manufaturas representava 56% da indústria em geral e, hoje, se limita a 34,5%; já o segmento básico – como extração de minério de ferro – subiu, no mesmo período, de 27,9% para 50,8%. E dizer que, nos anos 60, a esquerda brasileira, com base em estudos da Cepal/ONU, dizia que os países ricos controlavam o comércio mundial para não deixar o Brasil e nações similares evoluírem industrialmente. Agora, o país é vendedor de minério e soja, após ter sido importante na indústria.
A inflação deverá ficar levemente acima do nível máximo de 6,5%, atingindo 6,6%. Nesse ambiente, obviamente, falta confiança empresarial. O acesso ao crédito é o pior desde 2009 – exceção feita aos créditos de governo, que obedecem a ritmo próprio. Logo no início, o estudo informa que essa situação preocupante do Brasil decorre “mais de causas domésticas do que do ambiente mundial”, ou seja, a culpa é nossa: da sociedade e do governo escolhido por nós para gerir o país.
Por fim, uma palavra sobre gastos e receita: “A política fiscal expansionista continua deteriorando as contas públicas. Tanto as despesas do Governo Federal como as dos governos regionais expandiram-se em ritmo muito superior ao das receitas e da atividade econômica”. E, para tristeza de alguns analistas, a culpa não é da Previdência Social: “Os gastos com a Previdência tiveram queda real de 0,6% entre janeiro e maio de 2014”. Se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, com seu otimismo, não considerar a situação preocupante, deveria dar uma boa explicação ao povo.

Fonte: Monitor Mercantil\Sergio Barreto Motta

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