terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Alinhamento das metodologias de dados seria importante para setor portuário, aponta consultor.




Consultas realizadas pela Portos e Navios com três diferentes bases de dados apontam divergência de informações sobre os volumes de cargas movimentadas nos portos brasileiros. Nos anos de 2016 e 2017 é possível perceber, por exemplo, diferença no número de contêineres operados em Vitória (tabela 1) em relação aos dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) e da Log-In, que opera o Terminal de Vila Velha (TVV). De acordo com a autoridade portuária, a movimentação foi de 187.654 TEUs em 2016, ante 187.631 TEUs apurados pela Antaq e 184.800 TEUs publicados no balanço da Log-In.



A diferença neste caso é relativamente pequena, podendo chegar a quase 2%. Porém, ela pode ser significativa se analisado um porto com maior movimentação de TEUs. “Se utilizarmos como exemplo Santos, que movimenta quase quatro milhões de TEUs por ano, a diferença pode chegar 7,7% (80 mil TEUs), o que pode justificar um guindaste a mais ou a menos na operação ao se fazer um plano de investimento”, comenta Eduardo Greco, consultor da Drewry.




Greco acredita que várias hipóteses podem explicar a diferença no porto capixaba. Segundo ele, algumas são justificáveis, como o fato de que não somente a Login movimenta contêineres no Porto de Vitória e a diferença poderia ser por causa da movimentação em outros terminais. Um problema maior é quando a diferença ocorre por diferentes metodologias como, por exemplo, não reportar vazios, transbordos e remoções. “O alinhamento de metodologias seria bastante importante para o setor, especialmente para uma operação padronizada como é o contêiner”, aponta Greco.



O consultor da Drewry diz que a divergência de dados é um problema conhecido pelo setor há muito tempo e já passou da hora de ser resolvido. Greco também observa limitação da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) para dados de transbordo e tipo de carga (granel, contêiner, breakbulk). Ele explica que se uma carga de exportação com origem na Bahia, por exemplo, faz transbordo em Santos, não é possível determinar se o transporte Bahia-Santos foi feito em contêiner por via marítima ou por rodovia.


Greco ressalta que os pesquisadores e consultores ainda encontram dificuldades na leitura de informações de mercado. Ele considera boas as bases de dados da Secex, apesar de algumas limitações. O Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (Aliceweb), que usa base em informações o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), distingue se a carga foi transportada por modal marítimo ou rodoviário, porém não diferencia se o conteúdo é contêiner ou granel. A dúvida acontece principalmente em cargas que também podem ser transportados por contêiner, como celulose, açúcar e até soja — esta por ter um volume ainda que pequeno transportado por contêiner.


Já os dados Antaq fazem a distinção entre contêiner e granel, porém as toneladas informadas pela agência não batem com as toneladas lançadas pela Secex. Na exportação, o sistema da Secex fornece a origem da carga e depois o porto de embarque. Pela Secex, a carga pode sair num navio de cabotagem do Espírito Santo e depois fazer transbordo em Santos e o sistema classifica Santos como porto de embarque, em vez de Vitória. "Não temos como saber se essa carga foi rodoviária ou por cabotagem. Sabemos que ela saiu do Espírito Santo e que o último porto de embarque em território nacional foi Santos”, descreve Greco.


O consultor acredita que a solução está nas metodologias de cálculo e no método de classificação, hoje utilizados de formas diferentes. Para Greco, a comunidade marítima e portuária precisa se reunir e definir qual seria a metodologia mais adequada. Ele lembra que existem padrões internacionais para calcular produtividade através dos movimentos por berço e movimentos por guindaste.


Greco explica que para entender o mercado em qualquer estudo que se faça é necessário ter informação de importação e exportação que não sejam conflitantes. "A Antaq disponibiliza uma boa informação. Tem alguns aprimoramentos como, por exemplo, a questão do transbordo que vejo como limitação. Mas o problema mais sério é o conflito: se vai ao site da Antaq é uma informação, se vai ao site do Porto de Santos é outra”, exemplifica Greco.


Na avaliação dele, essa divergência de informações é ruim para que qualquer pessoa interessada em fazer estudo de mercado ou projeção de volumes de cargas para determinado período de tempo. Greco destaca que o Brasil tem muitas fontes de informação, mas esbarra nos conflitos de dados. O consultor afirma que, quando comparadas informações da autoridade portuária, terminais portuários, Antaq e Secex, as informações nunca batem. Ele conta que existem países em situação bem pior, pois a escassez de informações leva os consultores a buscar informações com entes privados. Em outra ponta, ele cita Puertos del Estado (Espanha), onde os números são integrados e casam precisamente entre todas as autoridades portuárias e a agência nacional.


Por Danilo Oliveira
(Da Redação)

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