segunda-feira, 18 de maio de 2015

JAPONESES QUEREM SOLUÇÃO PARA CRISE.

Grupos industriais japoneses que investiram mais de R$ 1 bilhão em três estaleiros nacionais - Atlântico Sul (EAS), Enseada e Rio Grande (ERG) - estão preocupados com o futuro de seus negócios no Brasil. Hoje executivos da IHI Corporation, da Kawasaki Heavy Industries e da Mitsubishi Heavy Industries vão se reunir com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, para falar sobre as perspectivas da indústria da construção naval e offshore no país. Os japoneses esperam sinalizações do governo de que a Petrobras vai assegurar a demanda de sondas aos estaleiros e que a Sete Brasil irá honrar o pagamento das dívidas.

Pela manhã, a presidente Dilma estará no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, que tem a IHI e outras empresas japonesas como sócias, para a cerimônia de início da operação do navio André Rebouças e para o batismo do petroleiro Marcílio Dias, ambas as embarcações do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), da Transpetro, subsidiária da Petrobras. À tarde, de volta à Brasília, Dilma irá receber em audiência os presidentes da IHI Corporation, Tamotsu Saito, e da Kawasaki Heavy Industries, Shigeru Murayama, além de Seiji Shiraki, representante da Mitsubishi.

Em um movimento coordenado, a partir de 2013, os grupos japoneses voltaram a investir na construção naval e offshore brasileira, atividade na qual tiveram presença importante no país, via Ishikawajima Harima Heavy Industries, desde a implantação do Plano de Metas de Juscelino Kubitscheck, no fim dos anos 1950, até meados da década de 1990.

A IHI, sucessora da Ishikawajima, liderou grupo de empresas japonesas que entrou no capital do EAS comprando 25% do estaleiro, fatia depois ampliada para 33,3%. A Kawasaki comprou 30% do Enseada, na Bahia, e a Mitsubishi adquiriu, em consórcio, idêntico percentual do Estaleiro Rio Grande (ERG), no Rio Grande do Sul.

Os japoneses voltaram a investir no Brasil acreditando na demanda do pré-sal e nas encomendas da Petrobras, o cliente único dos grandes estaleiros nacionais. Mas a crise na petroleira e na Sete Brasil criou receio, entre os japoneses, de que a nova investida no setor no Brasil termine em prejuízos. A IHI estaria entre as empresas japonesas em situação mais delicada no Brasil pois a decisão do EAS de cancelar os contratos de construção de sete sondas com a Sete Brasil teria levado o grupo japonês a fazer baixa contábil relativa a fornecimento de bens e insumos para o estaleiro, disse uma fonte. Procurada, a IHI não se pronunciou.

Nesta curta experiência no setor no Brasil, os grupos japoneses fizeram investimentos e apostaram no treinamento de pessoas no Japão, além de transferir tecnologia. Mas frente às dificuldades dos estaleiros nacionais para cumprir os prazos colocados pela Petrobras em obras de plataformas e sondas, várias encomendas de cascos foram transferidas para o exterior, incluindo China e Japão. No mercado, há avaliações de que muitas vezes empresas japonesas e coreanas, que também já estiveram no setor no país, buscam levar parte das obras para seus países de origem. Mas o fato é que a política de conteúdo local instituída no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mantida no atual governo exigiu que esses grupos se instalassem no Brasil para poder atender a demanda da Petrobras.

No setor, há quem entenda que o projeto da Sete Brasil só vai ficar de pé se a Petrobras quiser. Além de cliente, a estatal é também acionista da Sete. Assim, EAS, Enseada e ERG correm risco de ficar de fora do programa de construção de sondas da Sete Brasil, o qual deverá ser reduzido de um número total de 29 unidades previstas no começo para algo que pode variar entre 16 e 19 unidades, dependendo da disponibilidade de recursos da Sete Brasil a partir da aprovação do plano de reestruturação da empresa que será avaliado hoje pelos acionistas. Se não forem excluídos, os três estaleiros deverão executar um número menor de sondas do que as contratadas inicialmente. No plano original da Sete Brasil, o EAS iria construir sete unidades, o Enseada, seis; e o ERG, três.

Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | Do Rio

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